Alias Grace – Realidade e ficção num drama histórico


Margareth Atwood era um nome desconhecido do grande público até alguns meses atrás. Até que o seu livro O Conto da Aia foi adaptado pelo canal Hulu, com o nome original em inglês de The Handmaid’s Tale – comecei a assistir, mas ainda não consegui terminar. E o sucesso foi estrondoso em todo mundo. E a Netflix, seguindo o mesmo caminho, adaptou sua outra obra: Alias Grace, no português Vulgo Grace. E a minissérie de seis episódios é um olhar na psique humana e no papel da mulher numa sociedade muito mais do que o mistério que se propõe a resolver. Ou não.



Enquanto The Handmaid’s Tale tem toda uma pegada futurística e distópica, Alias Grace é histórica e baseada num fato real, ainda que toda a montagem da história seja fictícia. O enredo gira em torno de Grace Marks (Sarah Gadon), uma criada acusada do assassinato do seu patrão Thomas Kinnear (Paul Gross) e sua amante Nancy (Anna Paquin) no século XIX. Muitos acreditam em sua culpa e muitos na sua inocência, por isso ela foi presa, mas poupada do enforcamento. Quando o médico Dr. Jordan (Edward Holcroft) é contratado por um comitê para realizar um relatório sobre a saúde mental de Grace e escrever algo possivelmente favorável à sua soltura, Jordan vai se envolvendo na narração da história por parte de Grace. Afinal, ela é culpada? É inocente? É louca? É manipuladora?

Mais do que ser sobre a culpa ou inocência de Grace, a série é focada no que é dito e no que é não dito, nos gestos, nos olhares, na respiração mais curta ou mais profunda. Sempre fica muito claro que a protagonista é várias mulheres em uma só. A que é doce e singela e apresenta ao Dr. Jordan, a que faz narração em off e é uma mulher já há mais de uma década presa e a que era antes de tudo acontecer. A pergunta que fica é: Existe uma Grace real ou todas são ela? Quando o narrador não é confiável sempre fica a dúvida no ar.




Mais do que ela conta ao médico, a história gira em torno do que ela não conta, do que ela prefere guardar para si. Como única testemunha viva dos fatos, Grace é a narradora da sua própria história e a conta da maneira que lhe bem aprouver. Cada personagem enxerga uma Grace e ela dá ao espectador o que ele deseja ver. Dr. Jordan enxerga uma possibilidade de romance, o reverendo uma inocente beata, as mulheres uma ameaça à sua família e à vida em sociedade e assim por diante.

Alias Grace trata de vários temas pertinentes e muito atuais, ainda que tenha pano no século XIX. A série conversa sobre abuso, violência sexual, aborto, assassinato, inveja, psicologia, hierarquia, opressão, o papel da mulher, preconceito contra imigrantes e muito mais.  




O roteiro é de Sarah Polley, que há duas décadas – desde que foi publicada – tenta trazer para as telas a história de Grace Marks. E a produção é muito bem pensada, desde o figurino que ajuda a contar a história e é parte importante dela até o cenário bucólico do Canadá quase Vitoriano. Mas Alias Grace não seria o que é sem o elenco, sem Sarah Gadon, mais propriamente dito. Magnífica é uma palavra que dá para descrever seu trabalho. Os olhos tristes de cachorro sem dono ao falar com o médico, a cara de surpresa ao descobrir um novo mundo de possibilidades, o sorrisinho sarcástico ao ser levado pelos guardas e a cena da hipnose – que não posso discorrer sobre ela porque é spoiler –, que é espetacular. Não podemos deixar de citar Edward Holcroft, como o aflito médico, Anna Paquin, como a inconstante governanta e amante e, Zachary Levy, um patife que ganha o coração de todo mundo e tem um importante papel na trajetória de Grace.

Como há a narração de uma história completa, desde que Grace chega da Irlanda ao Canadá até décadas a frente, por momentos a série se torna um pouco lenta, mas nada que prejudique o andar dos acontecimentos e nem altera a curiosidade do espectador sobre o assassinato, que aos poucos se desdobra. O trabalho de edição, com idas e vindas ao passado e ao presente, é quase arte.


Alias Grace é uma ótima pedida para assistir na Netflix (e é rapidinha de ser assistida).

Recomendo bastante.

Teca Machado

8 comentários:

  1. Oi Teca!
    Geralmente eu não consigo persistir em séries lentas, mas Alias Grace foi bem interessante, vi todos os eps. E msm com dúvida no final, a série é muito boa pelas críticas que traz.
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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  2. Essa série é boa demais!! Geralmente eu abandono séries que tem um ritmo muito lento, mas a história de Alias Grace me prendeu tanto que nem liguei pros momentos mais arrastados, acho que todos contribuíram pra construção do mistério e do suspense que cerca a personagem.

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br

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    1. Carol, concordo com você.
      Tive a mesma sensação.
      Mesmo o lento tem motivo para estar ali.

      Beijooos

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  3. Oiii Teca

    Eu comprei o livro e já me decidi que antes de conferir a série quero ler o livro, porque senão já sei que desanimo. Tenho muita vontade de conhecer a história,a cho a premissa super interessante e só tenho escutado elogios.

    Beijos

    aliceandthebooks.blogspot.com

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    1. Que legal, Alice.
      Gostei da história e fiquei curiosa pelo livro também.

      Beijooos

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  4. Oi Teca!
    Eu adorei O conto da aia (o livro, não vi a série) e desde então quero conhecer mais trabalhos da autora. Ainda não li esse livro e também quero ver a série!

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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