Sobre resoluções, promessas e réveillons



Apesar de ter sido feliz e realizada no ano que ia acabar dali a poucos minutos, ela fez algumas promessas para o ano novo que se aproximava. Afinal, melhorias nunca são demais. Prometeu que a academia veria mais a sua presença. Prometeu que tomaria mais cuidado ao dirigir. Prometeu diminuir a quantidade diária de chocolate. Prometeu ler mais livros e assistir menos televisão. Prometeu ligar mais para aquela amiga distante que tanto gosta. Prometeu também que não ligaria mais para aquele cara que não parecia gostar dela de verdade. Prometeu que tentaria ser uma pessoa melhor. Prometeu, prometeu e prometeu. E cumpriu? Não tudo, mas pelo menos tentou e às vezes isso é o que mais importa.

Exatos 365 dias se passaram. Mais uma vez o ano novo se aproximou com aquela rapidez incrível que nos faz pensar “Mas já?” e ela se viu de novo na situação de faltando apenas alguns poucos minutos para comemorar mais um réveillon. Dessa vez, resolveu fazer um balanço das promessas antigas antes de fazer as novas resoluções.

Foi mais na academia? Mais do que teria ido anteriormente, mas bem menos do que deveria. 

Teve mais cuidado ao dirigir? Amassou menos o seu carro, mas deu uma batida feia em julho.

Diminuiu a quantidade chocolate por dia? Nenhum pouco, só aumentou. Mas não se sentiu nenhum pouco com peso na consciência.

Leu mais e assistiu menos televisão? Sim, essa promessa cumpriu integral.

Ligou mais para a amiga? Ligou no início, mas a amiga nunca tinha a iniciativa de ligar também, então aos poucos foi desistindo.

Parou de ligar para o rapaz que não ligava para ela? Em janeiro ainda ligou, em fevereiro um pouco menos, em março apagou o seu telefone da agenda, em abril teve uma recaída e ligou mais uma vez (Sabia o número de cor, droga), em maio um outro cara começou a ligar para ela, em junho sabia o número desse outro garoto de cor (Assim como tudo sobre ele), em julho estava perdidamente apaixonada. Assim como em agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. E tinha a impressão que no próximo ano, aliás, nas próximas décadas, ia continuar no mesmo estado de espírito. 

Se tornou uma pessoa melhor? Essa era a resolução de ano novo mais difícil. Não era quantitativa. Não dava para medir, fazer uma pontuação ou ranking. É verdade que no ano todo não atravessou nenhum sinal vermelho, tratou melhor os seus pais, adotou um cachorrinho e, até onde se lembrava, não jogou lixo no chão nenhuma vez. Mas isso a fazia uma pessoa realmente melhor? Bom, pior não fazia, isso era fato. Mesmo sem essa resposta clara, achou que o saldo era definitivamente positivo.

E em menos de um minuto o próximo ano ia chegar. Quais seriam as suas promessas e metas para os 365 dias seguintes? Emagrecer? Viajar mais? Cuidar melhor das suas finanças? Dormir menos? O tempo correndo e ela não conseguia resolver.

10... 9... 8... 

Ela precisava se decidir logo. O que fazer no próximo ano? 

7... 6... 5... 

Deu branco. E agora? 

4... 3... 

Aí o rapaz, aquele por quem ela se apaixonou ao longo do ano que acabava, chegou até ela, a abraçou, deu um beijo em sua bochecha e disse que os últimos meses ao seu lado tinham sido incríveis. Os melhores de todos os tempos. 

2...

Então ela percebeu que não precisava prometer nada.

1...

Ela percebeu que tudo o que precisava fazer era ser feliz. Ainda mais feliz do que já era. O resto era consequência.

Feliz Ano Novo!

Teca Machado

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