Salvando desconhecidos


Vou falar mais uma vez sobre doação de sangue. O tema é repetido, falei nesse post aqui, mas vale a pena enfatizar. Afinal, todos os dias, os brasileiros precisam de 5.500 bolsas de sangue. Não é pouca coisa, né?

A Carol Freitas, uma amiga minha, colocou no Facebook dela um depoimento sobre a doação de sangue que fez ontem. Achei que valia a pena compartilhar com vocês.

Segue o relato dela.

B Positivo

Cresci tendo sempre um pânico imenso de agulha e nunca consegui entender realmente a razão. Todas as vezes que o contato é inevitável, eu sinto uma dor insuportável desde antes de ela furar meu corpo e essa dor segue por dias. Minhas histórias com agulha são quase inacreditáveis, mas é possível acreditar ao me ver em contato com uma. Nesse ponto é possível perguntar: mas e as tatuagens, você não sente dor?! Respondo fácil: sinto MUITA dor, mas passa, como tudo na vida. 

Por anos pensei em doar sangue e nunca tive coragem pelo contato obrigatório com a agulha. Porém, em julho de 2011, uma amiga me informou que sua prima (hoje minha amiga também) precisava de sangue e perguntou se eu podia doar para ajudar. Sem pensar, fui no Hemosan e após todo o processo antes da doação eu disse para a enfermeira:

- Tenho pânico de agulha, mas não passo mal, só não quero ver nada do processo, tem problema?

- Se você realmente não tiver queda de pressão e nem nada que prejudique a doação não tem problema.

- Então eu vou fechar o olho e você me avisa quando terminar de me furar, tá bom? 

Após terminar o processo, voltei ao trabalho e por dias senti aquela dor que me dava orgulho por ter conseguido e me deixava feliz por ter ajudado alguém que é importante para alguém muito importante para mim.

Saí de lá me prometendo doar sempre, mas entre pânico e tatuagens, não voltei mais. Até que hoje (26.06.12) recebo uma mensagem daquelas "Te Ligou" que a Tim envia com um número que não consta na agenda. Como uso o número para trabalho, também resolvi retornar e ouvi:

- Sou do Hemosan do Hospital Santa Helena e temos no sistema que seu sangue é 'B Positivo', a sra confirma?

-Olha, eu realmente não sei, doei sangue uma vez, mas nunca busquei minha carteirinha e não sei qual é meu sangue. Mas, o que houve?

- Nós temos hoje uma criança na UTI. O seu sangue é raro e por isso não estocamos ele com frequência, preferimos ligar para quem temos cadastrados e pedir doação quando é necessário. Por isso estou te ligando.

- Vou só confirmar meu tipo sanguíneo e se for esse mesmo eu vou.

Confirmado, engoli meu medo todo (não que isso tenha diminuído a dor) e fui. Cheguei lá e falei diretamente.

- Olá, boa tarde. Um rapaz daqui me ligou dizendo que viu no sistema meu tipo de sangue e pedindo pra eu doar para uma criança que está internada no hospital.

- A sra sabe qual é a paciente?

- Não sei, mas tenho o telefone do rapaz que ligou, ajuda?

- Vou tentar por aqui, se não der certo a gente liga pra quem te ligou, pode ser?

- Claro. 

Pois bem, ela encontrou a/o paciente. Eu nem sei o nome. Só sei que dessa vez eu saí de lá um pouco melhor do que da outra vez, porque agora eu realmente não sei pra quem vai o meu sangue, não sei quem estou ajudando. 

É claro que sei de todo o processo de exames e que normalmente esse sangue vai repor o estoque pelo uso de sangue guardado pela criança em questão, mas pela voz do rapaz que ligou, eu fiquei realmente pensando se não será tudo acelerado para esse sangue ir direto pra criança. 

Estou leve por saber que tenho meus medos, mas que sou capaz de enfrentar por alguém que não conheço. Vejo como uma atitude bacana e fico sem compreender porque tanta gente deixa de doar sangue, deixa de salvar vidas.

Sei também dizer que meu braço está doendo e minha cabeça rodando, mas quer saber a mais pura realidade? Se me liberassem para doar de novo amanhã, eu lá estaria. Não vejo uma única razão para não ajudar o próximo com algo tão simples, rápido, seguro e que não causa dano (caso não saiba o organismo repõe o sangue doado).

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Bonito, né, gente?

Espero que isso inspire vocês também.

Não esqueçam de conhecer o Vai Doa!

Teca Machado

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