3.096 Dias, de Natascha Kampusch - O mais longo sequestro que se tem notícia


Quando era criança, lembro vagamente de escutar sobre o caso do desaparecimento da garota austríaca Natascha Kampusch. Foi só em 2006, quando ela conseguiu fugir do seu cativeiro após oito anos de sequestro, que realmente conheci os fatos. Mas ouvir as notícias da mídia, que, convenhamos, não é muito confiável, é totalmente diferente de ler uma obra escrita pela própria pessoa que passou pela situação. Fiquei impressionada e com um nó na garganta ao terminar de ler o livro 3.096 Dias, da própria Natascha Kampusch, com auxílio literário de Heike Gronemeier e Corinna Milborn.


Um dos aspectos que me marcaram muito na história da Natascha é que eu e ela temos exatamente a mesma idade e nascemos quase no mesmo dia. Eu sou do dia 13 de fevereiro de 1988 e ela do dia 17. Me deixou triste pensar que enquanto eu estava curtindo a minha adolescência, tendo as experiências normais da fase, ela estava trancada num quarto com cinco metros quadrados num porão, sendo submetida a abusos físicos e psicológicos.

Natascha Kampusch era uma menina austríaca relativamente normal. Seus pais eram separados, suas irmãs muito mais velhas e ela sentia que não havia um lugar para ela no mundo. Um tanto depressiva, ela via na televisão casos de meninas sequestradas, abusadas sexualmente e assassinadas e morria de medo de ser a próxima vítima, mas ficava tranquila por ver que não se encaixava na descrição de menina loira, magra e linda. 

Essa é a Natascha

Na manhã do dia 2 de março de 1998, Natascha brigou com a mãe e foi para a escola sem se despedir dela. O trajeto era pequeno e numa área segura, ela não achava que nada de mal iria lhe acontecer. Mas Wolfang Priklopil, um engenheiro de telecomunicações desempregado e com sérios distúrbios mentais, a pegou, jogou numa van e a trancafiou num quartinho que construiu abaixo da sua casa. Não havia luz natural, chuveiro e nem ventilação adequada. E ali Natascha passou os próximos 3.096 dias da sua vida.

Na obra, a autora/vítima descreve como foram os anos com Priklopil. Ele era um homem desequilibrado e totalmente contraditório. Durante um tempo era bondoso e até lia histórias para que Natascha dormisse. Em outros momentos era violento, insano e tinha acessos de raiva sem motivos aparentes. Ele criou na garota amarras muito mais fortes do que as físicas. E esse tipo de horror é muito mais prejudicial. Como ela diz várias vezes durante a narrativa, eles estavam psicologicamente atados. Ela dependia dele para comer, beber, sobreviver e ele dependia dela para se sentir normal (Pois para ele, essa era a noção de realidade).

Cartaz de desaparecida da menina e Priklopil

Muitos esperavam que Natascha fizesse seu sequestrador ser visto como a personificação do mal, mas ela não o faz. Diz várias vezes no livro que é impossível não criar sentimentos e até simpatia pela pessoa que te alimenta e que teoricamente cuida de você, a única com quem você tem contato durante longos anos, por mais que ela também faça mal. Por isso, muitos a classificaram como vítima da Síndrome de Estocolmo (O que a deixa com raiva, diga-se de passagem).

Detalhe do cativeiro de Natascha

O livro 3.096 Dias tem uma linguagem fácil e rápida. Pensei que seria chato, afinal, ela ficou trancada todo esse tempo num lugar só. Mas a narrativa é extremamente dinâmica, interessante e com flashbacks do passado e do presente. Acredito que isso seja mérito dos co-autores, que são escritores e jornalistas já conceituados. Além disso, é extremamente pessoal, é como um diário de Natascha. Você vai sentindo mal estar e incômodo por tudo o que ela passou, principalmente quando descreve as surras épicas que levava.

Depois que li o livro descobri que no início desse ano lançaram um filme inspirado na obra e é muito parecido com o original. Como assisti apenas dois dias depois de terminar de ler, pude comparar os dois e perceber as semelhanças e diferenças.

Cartaz do filme

3.096 Dias é dirigido por Sherry Horman. O longa de 111 minutos pode ser descrito como incômodo e claustrofóbico, pois parece um documentário. E o fato de sabermos que aqueles horrores foram reais torna tudo ainda mais intenso. Apenas nos momentos pré-sequestro há vida e cor no filme. Depois disso, ele é todo feito com jogo de luz e sombras. As atuações são excelentes, principalmente de Antonia Campbell-Hughes, a esquelética Natascha adolescente; de Thure Lindhardt, Wolfgang Priklopil; e de Amelia Pidgeon, Natascha quando criança.


Amelia Pidgeon, Antonia Campbell-Hughes e Thure Lindhardt



Recomendo tanto o livro quando o filme, mas é preciso ter estômago forte.

Teca Machado

4 comentários:

  1. Oi, Teca, boa tarde!
    Li este livro agora no começo de outubro, a pedido de uma amiga. Ela havia lido o livro alguns meses antes, assistido ao filme e se revoltado com algumas passagens, principalmente por abordarem a questão de abuso sexual, sendo que era o único tema que a Natascha disse que preferia manter apenas para si, e por isso queria minha opinião sobre o assunto. É realmente uma leitura pesada, apesar de fluir rapidamente. A linguagem e a narrativa podem ser simples, mas o conteúdo é tão denso que chega a pesar no peito. Não consigo nem começar a imaginar o que ela passou, o quanto ela sofreu, o quanto continua sofrendo - pois isso não é algo que simplesmente vai embora. É uma leitura que realmente me impactou ><

    Beijos e ótima semana
    http://confissoesdeumleitor.wordpress.com/

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  2. É complicado ,pois da para perceber visivelmente que ela gostava dele, pois como ela mesma disse, é impossível não gostar de alguém que cuida, alimenta , e por incrível que pareça, ainda a levava para "sair". Mas puder perceber que ela não sofria abusos sexuais , pois só depois de ter "crescido", ambos tiveram delações sexuais, ela diz que prefere não falar sobre isso, eu não sei, só estou dando minha opinião, mas parece que curtiu ter relações com ele, e por isso tem medo de falar. Mas... Não posso afirmar, mesmo antes de saber que a história era verídica, quando eu só havia assistido o filme, eu já havia pensando nessa hipótese. Enfim, eu não posso afirmar nada, como já disse a cima.
    Bjs queridos.

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    1. Ele era um estuprador, ela não escolheu ele, nao era consensual, ele era sim um abusador sexual.

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    2. ele era um estuprador, e ainda espancou nao vejo uma historia boa ou de qualquer outra coisa parecida , eu vejo um filme de terror!!

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