Pela janela, imagino...



Janelas, para quem está do lado de fora, mostram pequenos fragmentos da vida dos moradores daquela casa. Vemos a movimentação, vemos as conversas sem entender quais são as palavras ditas, vemos cenas de carinho e vemos cenas não tão doces. Observamos pedaços da personalidade das pessoas e também do seu dia a dia. Nem imaginamos quem são ou o que elas passam no cotidiano. Ou imaginamos? Eu, pelo menos, imagino.

Aquela senhora no terceiro andar, quinta janela, do prédio da frente, por exemplo. Acredito que seja uma mulher que passou os últimos 45 anos ao lado do homem que está sentado na sala que vislumbro pela quarta janela do terceiro andar. Ele está relaxando no sofá, assistindo televisão, algum programa de sobrevivência do Discovery Channel. Ela sai da quinta janela, que é o seu quarto, e vai até a quarta. Ao se sentar ao lado do marido, lhe dá um beijo carinhoso na testa. Penso que aquele deve ser um casamento sólido, cheio de amor e cumplicidade. Ao longo dos anos passou por conflitos, mas, afinal, qual não passa? E de vez em quando vejo crianças correndo pelas suas janelas. E pela forma amorosa que o casal as olha, tenho certeza que são seus netos.

O rapaz da oitava janela do quinto andar me passa a impressão de ser introspectivo. Do tipo que passa horas de madrugada olhando para o teto procurando o sentido da vida. Várias vezes o vi encostado no parapeito da janela do seu quarto olhando para o céu estrelado. Imagino que esteja pensando em algo importante, como no tamanho infinito do universo. Mas posso estar errada, talvez seja algo trivial, como o que pretende comer no lanchinho do meio da noite.

As garotinhas do primeiro andar, sexta janela, são lindas. Gêmeas idênticas de cabelos loiros e enrolados e olhos negros. Estão sempre brincando uma com outra e de vez em quando rolando no chão de tanto brigar. A mãe sempre aparece para por um fim na confusão. As repreende, mas depois dá um beijo na bochecha de cada uma. O que eu acho interessante é que a mãe sempre obriga as meninas a se abraçarem logo depois do embate, uma estratégia para fazer as pazes. Tenho certeza que quando se abraçam, uma vira para a outra e fala baixinho em seu ouvido “Sua feia”, sendo que ambas são idênticas. Mas não sei, estou só imaginando mesmo.

Tenho certeza que o casalzinho do segundo andar, primeira janela, é recém-casado. Mudaram há poucos meses e não se desgrudam quando estão perto um do outro, chega a ser meio constrangedor. E todas as semanas o marido chega com uma flor ou um chocolate. É lindo de se ver. Reparei que todos os dias ela chega do trabalho antes dele e passa alguns minutos se arrumando, retocando a maquiagem e penteando os cabelos. Não estão na fase ainda de se verem feios e acabados, acredito. É o tipo de amor explosivo, palpável, bonito de observar. Torço para que dure e que daqui um tempo eu veja pela janela deles um bebê. Vamos ver o que acontece.

Enquanto isso, estou aqui na minha janela. O que será que meus vizinhos pensam quando vêem os fragmentos da minha vida passando? 

Imaginam coisas boas? 

Imaginam coisas ruins? 

Imaginam corretamente?

Imaginam, imaginem, imagino...

Teca Machado 

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