Lincoln – O grande concorrente ao Oscar


Abraham Lincoln, o décimo sexto presidente americano, está na moda. Nos últimos meses dois filmes sobre ele foram lançados. Tudo bem que o primeiro, Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, conta a história de um modo um tanto trash, pois o coloca como um presidente de dia e caçador de vampiros à noite (Comentei aqui). Já o segundo, chamado apenas de Lincoln, é muito mais sério e está em cartaz nos cinemas desde a última sexta-feira.


Olhando a ficha técnica de Lincoln é praticamente óbvio saber que é um ótimo filme, afinal Steven Spielberg é o diretor e o renomado ator Daniel Day-Lewis é o protagonista. Os dois são uma fábrica de prêmios. Steven Spielberg já ganhou três Oscars e 140 outras premiações. Daniel Day-Lewis venceu o Oscar como melhor ator duas vezes e, se ganhar o desse ano, vai ser o primeiro na história a ter três estatuetas nesse segmento. Lincoln está concorrendo em 12 categorias e deve levar pelo menos umas quatro.

Como o próprio nome do filme já diz, Lincoln é sobre o presidente americano. Apesar de biográfico, não conta toda a vida de Abraham Lincoln, apenas mostra 1865, quando foi reeleito, pôs um fim na Guerra Civil e assinou a abolição da escravatura nos Estados Unidos.

O presidente vendo o cenário de guerra

Já se passavam quatro anos da Guerra Civil americana e havia o peso de mais de 600 mil mortos em batalha estavam em seus ombros (Só para título de entendimento: Nessa guerra o sul escravocrata queria se separar do norte abolicionista e formar um novo país). Lincoln desejava o fim da escravidão por motivos humanitários e porque isso poderia significar o fim da guerra. Para tanto precisava aprovar com o congresso a 13ª emenda, o que era uma tarefa complicada, pois os representantes dos Estados do sul eram contra. 

Em reunião com o alto escalão do governo

Um excelente estrategista, Lincoln passa a usar meios amorais, mas não ilegais, para conseguir votos no Congresso. Oferece cargos públicos para alguns, utiliza a pressão, faz coerção usando chantagem emocional e se alia a quem antes era inimigo. Mas o ato do suborno propriamente dito é mostrado como abominável para o presidente, mesmo quando os seus ajudantes dizem que sem suborno não existiria Congresso (Bom saber que a corrupção não é exclusiva dos políticos brasileiros).

Lincoln foi um dos presidentes mais amados pelo povo por causa do seu carisma

Enquanto tentava incluir a emenda na Constituição, os sulistas já apresentavam propostas de paz para que a abolição não fosse feita e a guerra terminasse de qualquer modo. Então, o presidente passa a ter um conflito moral: Estender a guerra por mais alguns dias para abolir a escravidão ou terminar imediatamente com o banho de sangue, mas continuar o sistema escravagista? É aquela velha história do “Os fins justificam os meios”.

Mary Todd Lincoln e Abraham Lincoln

O diretor foi muito inteligente ao mostrar o presidente como um grande estrategista político ao mesmo tempo em que mostra a sua faceta humana da conturbada vida familiar. Se dava bem com a esposa Mary Todd Lincoln (A ótima – e chata - Sally Fields), mas a morte de um dos filhos fez com que o relacionamento desandasse. O filho mais velho Robert (Joseph Gordon-Levvit, sempre muito bem) sente o peso de viver a sombra do pai e de ser o filho sem carisma do presidente mais adorado por todo mundo.

Ao que tudo indica, Daniel Day-Lewis leve o Oscar em 2013

O que dizer de Daniel Day-Lewis? Não há palavra melhor do que excelente para descrever a sua atuação. Ele personificou Abraham Lincoln com os seus trejeitos, modo de andar, voz, expressão facial e até mesmo a personalidade afável, mas forte. É possível sentir o peso da guerra em seus ombros e entender o porquê de a população amá-lo. É interessante quando ele começa a contar histórias, sempre com um fundo de moral, seja para o alto escalão do governo, seja para as mais baixas patentes da tropa. 

A iluminação parecia quase sempre natural

Ótimo trabalho de produção, de fotografia, de cenário e de figurino. A iluminação é sempre meio lúgubre e em locais específicos, focalizando o perfil do presidente, o seu chapéu e outros traços da cena, como um holofote num teatro. Mas o filme peca no tempo (150 longos minutos), em diálogos muito compridos e por não explicar bem a motivação da guerra. Várias vezes fiquei confusa e perguntei para o meu namorado: “Peraí, esse cara está do lado de quem? O uniforme azul claro é sul ou norte?”.

Lincoln foi bem sucedido na tarefa de transformar o mito em homem sem endeusar o presidente, mas também sem diminuir os seus grandes feitos.

Recomendo.

Teca Machado

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